Responsáveis pela fiscalização e aplicação eficiente do dinheiro público, 68 conselheiros de Tribunais de Contas Estaduais (TCEs) receberam pelo menos um supersalário nos dez primeiros meses deste ano. Quando contabilizados apenas os meses com vencimentos acima do teto, a média salarial desses servidores chega a R$ 100 mil.
A análise foi realizada pelo Estadão a partir dos dados coletados e disponibilizados pela organização não governamental (ONG) Fiquem Sabendo. O levantamento mostra que as Cortes de Contas têm garantido remuneração líquida — ou seja, descontados os encargos trabalhistas — entre R$ 44,4 mil e R$ 1,7 milhão em alguns meses.
Procurados, os Tribunais de Contas de Goiás e Tocantins afirmaram que os valores elevados de alguns salários derivam de 13º salário. Os contracheques nessas duas instituições oscilam entre R$ 44,4 mil e R$ 62 mil. Em São Paulo, os pagamentos foram atribuídos a verbas indenizatórias, que, em sua maioria, figuram entre R$ 83 mil e R$ 101 mil.
Já o TCE de Minas Gerais disse que “não existem penduricalhos” na Corte e que os supersalários identificados “incluem o recebimento de verbas indenizatórias determinadas pela legislação vigente”, como auxílio saúde, auxílio alimentação e férias indenizadas. Um dos conselheiros mineiros recebeu R$ 104 mil em fevereiro deste ano. Os demais tribunais não retornaram no prazo estipulado.
Esses valores excedem o teto remuneratório do funcionalismo público, atualmente fixado em R$ 44 mil. A Fiquem Sabendo reuniu 1.208 holerites com dados dos pagamentos líquidos realizados a 127 conselheiros de 13 Tribunais de Contas, entre janeiro e outubro deste ano. Os gastos com esses agentes públicos custaram R$ 54 milhões aos colegiados.
Dentro desse universo de contracheques, há 274 registros de supersalários em 10 Cortes: Tocantins, Alagoas, Acre, Bahia, São Paulo, Roraima, Goiás, Pernambuco e Minas Gerais. Houve ainda 60 casos de conselheiros que receberam salários acima de R$ 100 mil durante este ano.
A soma dos valores pagos aos conselheiros mais bem remunerados passa de R$ 27 milhões — ou seja, a metade do gasto anual dos 13 TCEs apurados pela Fiquem Sabendo.
Os tribunais das outras 14 unidades federativas do País não divulgam as informações de remuneração de maneira acessível e aberta, por isso foram excluídos do cômputo geral pela Fiquem Sabendo. A ONG aponta que há falta de transparência nos dados salariais das cortes que cuidam justamente do monitoramento dos gastos dos governos estaduais.